Líder quilombola é assassinada na Bahia: Comunidades pedem justiça e proteção
Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, é executada a tiros; Lideranças quilombolas apontam ameaças ligadas à especulação imobiliária
Na noite desta quinta-feira (17), um ato de violência chocou a comunidade de Simões Filho, na Bahia, com o assassinato de Maria Bernadete Pacífico, também conhecida como Mãe Bernadete. Líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Yalorixá e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial do município, Mãe Bernadete foi morta a tiros por criminosos que invadiram o terreiro da comunidade e fizeram familiares reféns. A liderança quilombola era mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, que foi assassinado há quase seis anos, em 19 de setembro de 2017.
A Polícia Federal investiga a morte de Mãe Bernadete no contexto da Operação Lucas 12:2, que procura desvendar um suposto esquema criminoso envolvendo o desvio e a venda de presentes recebidos por Jair Bolsonaro de autoridades estrangeiras. A operação é baseada em informações de que os desvios teriam ocorrido entre 2022 e início de 2023. Durante as investigações, a polícia descobriu possíveis conexões com a morte de Binho do Quilombo, filho de Mãe Bernadete, cujo assassinato permaneceu sem solução.
A comunidade quilombola de Simões Filho está profundamente abalada e denuncia que lideranças estão sob ameaça constante de grupos ligados à especulação imobiliária, que buscam tomar posse dos territórios. A cidade é parte da região metropolitana de Salvador, e a capital baiana é identificada pelo Censo Quilombola do IBGE como a cidade com a maior população quilombola do país, com quase 16 mil quilombolas e cinco quilombos oficialmente registrados.
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) emitiu uma nota expressando indignação e exigindo medidas imediatas do Estado brasileiro para proteger as lideranças do Quilombo de Pitanga dos Palmares. A Conaq também pede por justiça e investigações rigorosas para os crimes que têm atingido as lideranças quilombolas.
O Ministério da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos enviará uma comitiva nesta sexta-feira (18) para se reunir com autoridades estaduais da Bahia e prestar atendimento às vítimas e familiares, visando garantir proteção e defesa do território. A Bahia já foi identificada como um dos estados com maior incidência de violência contra povos e comunidades tradicionais, reforçando a urgência da atenção às questões de segurança para essas populações.