Exposição em São Paulo: O Gosto da Guerra: José Hamilton Ribeiro e a Memória da Cobertura no Vietnã
Exposição no MIS São Paulo reúne imagens marcantes de conflitos do século 20, destacando o trabalho do jornalista brasileiro.
No Museu da Imagem e do Som (MIS), na capital paulista, uma nova exposição está em cartaz para relembrar e refletir sobre um dos momentos mais marcantes do jornalismo brasileiro e mundial: a cobertura da guerra do Vietnã pela revista Realidade em 1968, liderada pelo jornalista José Hamilton Ribeiro. A mostra, intitulada “O Gosto da Guerra”, não apenas celebra o legado de Ribeiro, mas também contextualiza seu trabalho dentro de um panorama mais amplo de correspondentes de guerra do século 20, incluindo fotografias de outros cinco profissionais que testemunharam e documentaram conflitos ao redor do mundo.
A Cobertura de José Hamilton Ribeiro
José Hamilton Ribeiro, conhecido por seu compromisso incansável com a verdade e pela capacidade de captar a essência humana em situações extremas, foi um dos poucos jornalistas brasileiros a cobrir de perto a guerra do Vietnã. Sua jornada naquele país asiático teve um momento crítico e transformador quando, em um incidente trágico, ele pisou em uma mina terrestre, resultando na amputação parcial de sua perna esquerda. Esse episódio não apenas marcou sua vida pessoal, mas também se tornou um símbolo do perigo constante enfrentado pelos jornalistas em zonas de conflito.
Em sua obra “O Gosto da Guerra”, lançada originalmente em 1969 e agora relançada pela Companhia das Letras, José Hamilton descreve com intensidade e sinceridade o impacto físico e emocional da guerra, retratando o que ele chamou de “gosto ruim” que sentiu após o incidente com a mina terrestre. Esta expressão, segundo o próprio jornalista, captura a sensação de horror e confusão que permeava seu entendimento da guerra naquele momento.
A Exposição no MIS
Com curadoria de Teté Ribeiro, filha de José Hamilton Ribeiro, a exposição no MIS é uma homenagem não apenas ao trabalho de seu pai, mas também ao papel crucial dos jornalistas na documentação histórica e na promoção da paz em contextos de conflito armado. A mostra inclui uma seleção cuidadosa de imagens capturadas por José Hamilton e pelo fotógrafo japonês Keisaburo Shimamoto durante sua cobertura no Vietnã, destacando momentos de intensa humanidade e brutalidade.
Entre as fotografias mais emblemáticas está aquela que mostra José Hamilton caído após o incidente com a mina, coberto de sangue e rodeado pela incerteza do que viria a seguir. Essa imagem, capturada por Shimamoto, não apenas ilustra a vulnerabilidade dos jornalistas em zonas de guerra, mas também a coragem necessária para testemunhar e relatar os eventos que moldam o destino das nações.
Outros Correspondentes de Guerra
Além das imagens de José Hamilton Ribeiro e Keisaburo Shimamoto, a exposição apresenta o trabalho de cinco outros correspondentes de guerra que documentaram conflitos ao redor do mundo durante a segunda metade do século 20. Fotógrafos como André Liohn, Hélio de Campos Mello, Juca Martins, Leão Serva e Yan Boechat contribuíram com suas imagens poderosas, que capturam os custos humanos e sociais devastadores das guerras modernas.
As fotografias expostas abrangem conflitos desde a guerra civil em El Salvador até os desdobramentos violentos na Ucrânia contemporânea, oferecendo ao público uma visão ampla e multifacetada dos desafios enfrentados por comunidades inteiras em tempos de guerra e conflito armado.
Reflexões e Legado
Para Teté Ribeiro, a curadoria da exposição foi uma oportunidade não apenas de revisitar o trabalho e o sofrimento enfrentado por seu pai, mas também de contextualizar essas experiências dentro de um contexto histórico mais amplo. Ela destaca que, apesar das adversidades e do perigo, o compromisso de José Hamilton com a verdade e a humanidade o impulsionou a continuar seu trabalho como repórter, mesmo após a experiência traumática no Vietnã.
“O Gosto da Guerra” não é apenas uma exposição de fotografias; é um testemunho vivo da importância do jornalismo na busca pela justiça e pela paz. Ao destacar as histórias individuais por trás de cada imagem, a mostra convida o público a refletir sobre os impactos duradouros dos conflitos armados e sobre o papel fundamental dos jornalistas na narrativa histórica e na construção de um futuro mais justo e pacífico.
A Relevância Contemporânea
Além de revisitar o passado, a exposição também levanta questões urgentes sobre a relevância do jornalismo em tempos atuais, especialmente diante dos conflitos que continuam a assolar várias partes do mundo. Teté Ribeiro ressalta que as fotografias expostas não são apenas relíquias do passado, mas sim documentos vivos que podem inspirar uma reflexão profunda sobre o papel da mídia na formação da opinião pública e na defesa dos direitos humanos.
“É crucial que as novas gerações compreendam o legado dos jornalistas como meu pai, que arriscaram suas vidas para trazer a verdade à tona”, afirma Teté. “Em um mundo onde a desinformação e os interesses políticos muitas vezes obscurecem os fatos, é mais importante do que nunca valorizar o jornalismo independente e corajoso”.
Impacto Pessoal e Familiar
Para Teté Ribeiro, a curadoria da exposição foi também uma jornada emocional e pessoal. Filha de José Hamilton Ribeiro, ela relata que a preparação para a exposição a aproximou ainda mais das experiências e do sofrimento enfrentados por seu pai durante sua carreira como jornalista de guerra.
“Eu conhecia apenas superficialmente a história do sofrimento de minha mãe enquanto meu pai estava no Vietnã”, revela Teté. “Mas revisitar as fotografias e os relatos de meu pai me proporcionou uma compreensão mais profunda do que ele realmente passou. Foi uma experiência emocionante e dolorosa, mas também uma oportunidade de honrar seu legado e seu compromisso com a verdade”.
Educação e Sensibilização
Além de ser uma exposição visualmente impactante, “O Gosto da Guerra” também busca educar o público sobre os efeitos devastadores dos conflitos armados nas comunidades afetadas. Por meio de programas educativos e visitas guiadas, o MIS São Paulo pretende não apenas informar, mas também sensibilizar os visitantes sobre a importância da paz e da cooperação internacional na prevenção de futuros conflitos.
“Esperamos que esta exposição não apenas inspire, mas também motive ações concretas em prol da paz e da justiça”, diz Teté. “As imagens aqui expostas são testemunhos vívidos das tragédias humanas que ocorrem durante os conflitos, e é nosso dever compartilhar essas histórias para garantir que nunca sejam esquecidas”.
“O Gosto da Guerra” no MIS São Paulo é muito mais do que uma simples mostra de fotografias de guerra; é um tributo aos jornalistas como José Hamilton Ribeiro, que arriscaram suas vidas para relatar a verdade e promover a compreensão entre os povos. Ao revisitar as imagens e os relatos pessoais de correspondentes de guerra, o público é convidado não apenas a refletir sobre o passado, mas também a considerar o papel crucial do jornalismo na construção de um futuro mais justo e pacífico.
A exposição, com entrada gratuita, estará em cartaz até o dia 26 de julho, oferecendo aos visitantes a oportunidade única de mergulhar nas histórias por trás das imagens icônicas e explorar o impacto duradouro dos conflitos armados na história e na sociedade contemporânea. Mais informações sobre horários de visitação e atividades relacionadas podem ser encontradas no site oficial do Museu da Imagem e do Som.
Com essa extensa cobertura, a matéria busca não apenas informar, mas também contextualizar e refletir sobre o impacto duradouro do trabalho de José Hamilton Ribeiro e outros correspondentes de guerra na história e na sociedade contemporânea.
Informação: Agência Brasil
Minuto a Minuto Notícias