BRICS abre conversa sobre possível ampliação do Bloco e criação de unidade de valor comum
A 15ª Cúpula do BRICS (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) teve início nesta terça-feira, em Joanesburgo, África do Sul, com um importante conjunto de pautas na agenda. Entre os tópicos mais discutidos estão a definição de critérios para a eventual ampliação do bloco e a criação de uma unidade de valor comum para o comércio entre os países-membros.
Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula abriu discussões sobre a possibilidade de expansão do BRICS. Mais de 20 países, incluindo Irã, Arábia Saudita e Argentina, manifestaram formalmente interesse em se juntar ao grupo. Entretanto, especialistas apontam que a inclusão de novos membros pode acarretar desafios para a cooperação já estabelecida.
Paulo Borba Casella, coordenador do Grupo de Estudos sobre o BRICS da Universidade de São Paulo (USP), expressa preocupação de que a inclusão de novos países possa desestabilizar a dinâmica atual do bloco, comprometendo a eficácia das agendas conjuntas. Casella também levanta a possibilidade de o Brasil reconsiderar sua participação no grupo caso a inclusão de novos membros resulte em uma orientação política marcadamente anti-ocidental, o que poderia prejudicar relacionamentos comerciais importantes.
Alcides Cunha Costa Vaz, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), argumenta que a expansão do número de membros pode complicar a busca por consenso, visto que a diversidade e desigualdades aumentam juntamente com o número de países participantes.
Larissa Wachholz, especialista em China, destaca que o sucesso da expansão dependerá da forma como ela for conduzida, levando em consideração os objetivos e interesses de todos os envolvidos. Ela ressalta que a criação de instrumentos que facilitem o comércio internacional é benéfica para países como o Brasil, que se fortalece com um comércio amplo e resiliente.
Outra discussão relevante na cúpula gira em torno da criação de uma unidade de valor comum para transações comerciais e de investimentos entre os países do BRICS. A ideia não é substituir as moedas nacionais, mas oferecer uma alternativa estável às moedas internacionais predominantes.
A cúpula também abordará temas como aprimoramento da governança global, recuperação econômica, cooperação entre países em desenvolvimento, combate à fome, mudança climática e transição energética. Apesar dos desafios geopolíticos, a cúpula é vista como uma oportunidade para fortalecer a cooperação e definir a direção futura do grupo, mesmo que os detalhes de como os países enfrentarão os desafios ainda estejam por serem definidos.