Arte no Cotidiano: Exposição e Cartas Revelam Legado do Revolucionário Hélio Oiticica

Arte no Cotidiano: Exposição e Cartas Revelam Legado do Revolucionário Hélio Oiticica

Uma jornada poética que encontra arte no corriqueiro, nas ruas e no cotidiano é o cerne da obra do artista plástico carioca Hélio Oiticica, que revolucionou as artes visuais e continua a inspirar especialistas e amantes da arte até hoje. Completando 86 anos neste mês (nascido em 26 de julho de 1937), Hélio Oiticica é homenageado em uma emocionante exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, e um livro com uma compilação de suas cartas reveladoras.

A exposição, intitulada “Delirium Ambulatorium”, abriga mais de 80 obras de diferentes fases da vida do artista, destacando o conceito que o inspirava a criar: o contato com o mundo e o caminhar pela cidade. O curador da mostra, o pesquisador pernambucano Moacir dos Anjos, destaca que para Hélio Oiticica, o delírio de caminhar pelas ruas e vivenciar o cotidiano comum eram a essência para criar sua arte.

“A arte está por toda parte”, enfatiza o curador, e, nas obras de Oiticica, o que era pintura nas paredes transformou-se em arte no espaço aberto, acessível a todos. Ele quebrou barreiras e aproximou a arte dos cidadãos comuns, afirmando que instalações, pinturas e esculturas não deveriam estar restritas a ateliês e museus.

A exposição abrange toda a trajetória do artista, desde os anos 1950, com seu envolvimento em uma tradição construtiva da arte brasileira, até os anos 1960, quando influências da Tropicália, cultura popular e o contato com músicos e sambistas da Mangueira o inspiraram a explorar novos caminhos. Nessa época, o movimento do corpo e da arquitetura passaram a ser fundamentais em sua visão artística.

Moacir dos Anjos destaca que Hélio Oiticica via o artista como um propositor de situações para que as pessoas pudessem viver com arte. Essa abordagem quebrava as distinções entre artista e não artista, entre museu e rua, e dava protagonismo ao corpo humano como um elemento essencial para interagir com a arte.

Uma das obras recomendadas para os visitantes apreciarem é a “Grande Núcleo” (1960), uma estrutura amarela e laranja composta por placas de madeira suspensas na galeria 3 do CCBB. Essa obra exemplifica a transformação da pintura em arte espacial, permitindo que as pessoas penetrem nos trabalhos e participem da experiência artística.

Além da exposição, os interessados em conhecer mais sobre a mente revolucionária de Hélio Oiticica têm outra oportunidade única: o livro “Hélio Oiticica: cartas 1962-1970”. O livro, resultado de uma minuciosa pesquisa de mais de quatro anos realizada pela pesquisadora Tânia Rivera, em parceria com Carlos Oiticica Filho, apresenta mais de 300 páginas com correspondências que revelam a busca constante do artista por elaborar conceitos e compreender o momento artístico.

As cartas também refletem sua preocupação com uma dimensão coletiva da criação artística e sua relação com a política. Em um período marcado pelo recrudescimento da violência do Estado e a extinção das liberdades individuais, Oiticica organizou um evento como ato político pela libertação de Caetano Veloso e Gilberto Gil, presos por portarem a bandeira com a inscrição “seja marginal, seja herói”, criada pelo próprio artista.

Hélio Oiticica partiu cedo, com apenas 42 anos em 1980, mas suas palavras e obras deixaram um legado duradouro e inspirador, mostrando que a arte pode estar ao alcance de todos, nas ruas e na vida cotidiana.

A exposição “Delirium Ambulatorium” no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília fica em cartaz até o dia 30 de agosto, com entrada gratuita. Quanto ao livro “Hélio Oiticica: cartas 1962-1970”, está disponível em livrarias e plataformas de venda de livros.

Informações: Agência Brasil

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