Apostas Esportivas comprometem orçamento familiar nas classes D e E, alerta estudo
Crescente popularidade das bets online desvia gastos essenciais, impacta economia e agrava endividamento entre famílias de baixa renda
O aumento das apostas esportivas em plataformas online, conhecidas como “bets”, está gerando consequências preocupantes para as famílias brasileiras de classes D e E, segundo um estudo da PwC Strategy& do Brasil Consultoria Empresarial Ltda. A pesquisa aponta que os gastos com essas apostas já ultrapassam despesas discricionárias como lazer, cultura e produtos pessoais, e começam a afetar até mesmo o orçamento destinado à alimentação.
Desde a aprovação da Lei nº 13.756 em 2018, que regulamentou as apostas de quota fixa, o gasto dos brasileiros com bets cresceu impressionantes 419%. Este fenômeno é especialmente significativo entre os jovens das classes de menor poder aquisitivo, gerando um aumento preocupante no endividamento e, consequentemente, pressionando a economia nacional.
Gerson Charchat, economista e sócio da Strategy& do Brasil, alerta que o desvio de recursos para as apostas está afetando a demanda por produtos essenciais, com impactos negativos na dinâmica econômica. Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que 64% dos apostadores utilizam parte de sua renda principal para apostar, e 23% admitiram que deixaram de comprar itens essenciais como roupas, alimentos e produtos de higiene.
A economista Ione Amorim, do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), destaca que o problema vai além do impacto econômico, tocando em questões sociais e de saúde mental. “O problema escalou, levando a casos de endividamento extremo, doenças mentais graves e até mesmo suicídio”, alerta. Ela enfatiza a vulnerabilidade da população com baixo nível de educação financeira, que muitas vezes vê nas apostas uma chance de solucionar dificuldades financeiras, sem perceber os riscos envolvidos.
O cenário pode se agravar ainda mais com a possível aprovação do Projeto de Lei nº 2.234/2022, que autoriza a exploração de cassinos, bingos e outras formas de jogo em todo o país. Embora a legalização seja defendida pela geração de emprego e arrecadação de tributos, especialistas alertam que os custos sociais e econômicos, especialmente para as classes mais vulneráveis, podem superar os benefícios.
A contabilidade de quem defende a legalização dos jogos não considera as perdas tributárias em outros setores e o aumento das despesas públicas com segurança e saúde mental. À medida que o debate avança, fica claro que é necessário um olhar atento sobre os impactos das apostas esportivas na vida das famílias brasileiras e na economia do país.