Ministra diz que conflito em MS não interessa a ninguém
Sonia Guajajara Se Reúne com Indígenas e Produtores Rurais para Buscar Solução Pacífica
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, liderou uma comitiva em Douradina (MS) nesta terça-feira (6) para dialogar com lideranças indígenas e produtores rurais sobre o aumento da tensão em torno das terras reivindicadas pelos guarani-kaiowá como territórios tradicionais. O encontro visou acalmar os ânimos e buscar soluções pacíficas para o conflito que já dura décadas.
Conflito e Ataques
Nos últimos meses, as ocupações de terras pelos guarani-kaiowá, referidas como “retomadas”, reacenderam a violência na região. Apenas no último fim de semana, lideranças indígenas e organizações indigenistas relataram dois ataques armados contra acampamentos na área destinada à Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ao menos nove indígenas foram feridos durante esses confrontos, enquanto barracos, pertences pessoais e símbolos culturais dos guarani-kaiowá foram destruídos e incendiados.
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram a presença ostensiva de caminhonetes, tratores e outros veículos nos locais de conflito, evidenciando o clima tenso que envolve a disputa por terras.
Um Apelo por Paz
Durante a reunião, Sonia Guajajara enfatizou a importância de buscar soluções pacíficas e destacou que o conflito não interessa a nenhuma das partes envolvidas, sejam elas indígenas, produtores rurais ou o governo federal.
“Viemos aqui em uma missão de paz. É isso que a gente busca”, disse a ministra ao se dirigir a um grupo de produtores e trabalhadores rurais. “Um conflito dessa forma não interessa a vocês [produtores rurais], não interessa aos indígenas e não interessa ao governo [federal]. Não interessa a ninguém”, afirmou Guajajara, ressaltando a importância de ouvir todos os lados para alcançar uma resolução que traga segurança e tranquilidade para todos.
A ministra salientou que o governo federal não compactua com a violência e está empenhado em pacificar a região através do diálogo e da presença do Estado. Ela também destacou o envio de reforços da Força Nacional de Segurança Pública para a área como uma medida necessária para proteger os povos indígenas e evitar novos confrontos.
Processo de Demarcação
A ministra Guajajara reafirmou o compromisso do governo federal em avançar com os processos de demarcação de terras indígenas, muitos dos quais têm enfrentado obstáculos legais devido a recursos judiciais interpostos por produtores rurais. A Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, prevista para ter cerca de 12 mil hectares, foi delimitada em 2011, mas o processo de demarcação tem sido paralisado por disputas legais.
“Estamos trabalhando para que os processos demarcatórios em Mato Grosso do Sul e em todos os estados brasileiros sejam retomados. Não é possível que os indígenas continuem sofrendo com tamanha violência em meio a esses conflitos. Queremos garantir a segurança dos povos nos seus territórios”, disse a ministra.
Perspectivas dos Produtores Rurais
Por outro lado, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) expressou preocupações sobre a segurança jurídica no campo, afirmando que a situação atual gera incertezas para os produtores. Segundo a Famasul, as áreas já delimitadas como de usufruto exclusivo indígena totalizam mais de 283 mil hectares em 903 propriedades rurais de 30 municípios sul-mato-grossenses.
Marcelo Bertoni, presidente da Famasul, argumentou que tanto os indígenas quanto os produtores rurais são vítimas de um sistema complexo de propriedade de terras que remonta à Guerra do Paraguai (1864/1870).
“Tanto os indígenas quanto os produtores rurais são vítimas. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, [indígenas reivindicam] terras oriundas da Guerra do Paraguai [1864/1870], onde o Brasil, quando obteve a vitória, alocou produtores rurais para manter a soberania nacional. Agora, 150 anos depois, não podemos tratar esses produtores como invasores. Não podemos resolver uma injustiça criando outra”, sustentou Bertoni, em nota oficial.
Caminho para Soluções Pacíficas
O governo federal, liderado pela ministra Sonia Guajajara, se compromete a mediar o conflito em Mato Grosso do Sul, promovendo o diálogo entre as partes e priorizando uma abordagem que traga estabilidade e respeito aos direitos indígenas e à segurança dos produtores rurais. A presença reforçada da Força Nacional na região visa assegurar um ambiente pacífico, enquanto as negociações avançam para solucionar o impasse de longa data.
A reunião em Douradina é mais um passo no esforço contínuo para resolver conflitos fundiários e garantir que os direitos e a dignidade dos povos indígenas sejam respeitados, ao mesmo tempo em que se busca uma convivência harmônica com os interesses agrícolas e econômicos do estado.